segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Zelo Cristão - William MacDonald


Um discípulo pode ser perdoado se não tiver grande capacidade mental. Pode ser perdoado, também, se não manifestar notáveis capacidades físicas. Mas, não há discípulo que possa desculpar-se por não ter zelo. Se o seu coração não está inflamado por uma paixão ardente para com o Salvador, ele está "condenado". 

     Afinal de contas, os cristãos são seguidores d’Aquele que disse: "O zelo da Tua casa Me devorará" (João 2:17). Se o Salvador estava repleto de amor ardente por Deus e os Seus interesses, não há lugar para seguidores indiferentes.

     O Senhor Jesus vivia num estado de tensão espiritual. Isso é indicado nas Suas palavras: “Tenho, porém, um baptismo com o qual hei-de ser baptizado; e quanto Me angustio até que o mesmo se realize” (Lucas 12:50). E outra vez, por Seu dito memorável: "É necessário que façamos as obras d’Aquele que Me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar" (João 9:4).

     O zelo de João Baptista foi atestado pelo Senhor, quando disse: "Ele era a lâmpada que ardia e alumiava" (João 5:35).
O apóstolo Paulo era zeloso. Alguém tentou explicar o fervor da sua vida na seguinte descrição resumida:

     "Ele é um homem sem a preocupação de fazer amizades, sem a esperança ou o desejo de bens terrenos, sem apreensão de perdas mundanas, sem a preocupação pela vida, sem o medo da morte.

     Ele não tem posição, pátria ou condição. É homem de um só propósito — a glória de Deus. Homem de um só pensamento — o Evangelho de Cristo.

     Um tolo e contente por ser considerado tolo por Cristo. Pode ser considerado um entusiasta, um fanático, um tagarela ou qualquer excêntrico indefinível. Mas, deixemo-lo indefinível. Na hora em que começarem a chamá-lo de negociante, de proprietário, de cidadão, de homem de riquezas, de homem do mundo, de homem de sabedoria ou até de homem de juízo, se ele for realmente isso não será mais o mesmo homem de Deus. 

     Falará ou morrerá e, mesmo que morra, falará. Não tem descanso e apressa-se sobre terra e mar, sobre rochas e desertos. Ele clama e não se poupa e recusa ser impedido. Nas prisões, ele levanta a voz e nas tempestades do mar não se cala. Perante assembleias augustas e reis entronizados ele dá testemunho em prol da verdade. Nada pode silenciar a sua voz, a não ser a morte, e, mesmo ao morrer, antes que a espada lhe separe a cabeça do corpo, ele fala, ora, testifica, confessa, roga, luta, e, ao fim, abençoa o povo cruel".

     Outros homens de Deus mostraram esse mesmo desejo fervoroso de agradar a Deus. Charles. T. Studd escreveu:
"Ao lado de uma igreja sem preocupar-se
Alguns querem ficar;
Mas a um metro do inferno num pronto socorro
Eu quero para Cristo trabalhar".

     E, curiosamente, foi um artigo escrito por um ateu que fez Studd dedicar-se inteiramente a Cristo. O artigo dizia o seguinte:
"Se eu cresse, realmente, como milhões dizem que crêem: que o conhecimento e a prática da religião nesta vida influenciassem o destino numa outra, então a religião significaria tudo para mim.

     Eu consideraria os prazeres mundanos como refugo; as preocupações mundanas como insensatez e os pensamentos e sentimentos terrenos como vaidade. A religião seria o meu primeiro pensamento de manhã e a minha última imagem antes que o sono me dominasse. Eu trabalharia unicamente pela sua causa. Eu tomaria providências só para o amanhã da eternidade. Eu consideraria uma alma ganha para o céu como merecedora de uma vida de sofrimentos. As consequências terrestres não me fariam parar ou fechar os meus lábios. Eu tentaria olhar somente para a eternidade e para as almas imortais ao meu redor, para serem, em breve, eternamente felizes ou eternamente miseráveis. Eu sairia ao mundo para pregar "a tempo e fora de tempo" e o meu texto seria: "QUE APROVEITA AO HOMEM GANHAR O MUNDO INTEIRO E PERDER SUA ALMA?". 

     João Wesley era um homem zeloso. Ele disse: 

     "Dêem-me cem homens que amem a Deus de todo coração e nada temam a não ser o pecado e mudarei o mundo". 

     Jim Elliot, mártir do Equador, era uma tocha de fogo por Jesus Cristo. Um dia, meditando nas palavras: "Ele faz dos Seus ministros labaredas de fogo" (Hebreus 1:7), escreveu no seu diário: 

     "Sou eu inflamável? ó Deus, liberta-me das 'coisas' não inflamáveis que há em mim! Satura-me com o óleo do Espírito Santo para que eu possa ser uma chama. Mas uma chama é passageira, a sua vida é curta. Podes, ó minha alma, aguentar uma vida curta? Dentro de mim habita o Espírito da grande 'Vida Breve', cujo zelo pela casa de Deus O consumiu. 'Faz-me o Teu combustível, Chama de Deus'". 

     A última frase é extraída de uma poesia de Amy Carmichael. É fácil compreender como é que Jim Elliot se tenha inspirado nela: 
"Da oração que pede possa eu ser
Guardado dos ventos que em Ti vão bater,
De temer quando devo aspirar,
De vacilar quando devo mais alto chegar,
Deste "ego" mole, ó Capitão, livra
O Teu soldado que Te segue.
Do súbtil amor das coisas que amolecem,
Das escolhas fáceis que enfraquecem;
Assim o espírito não é reforçado,
Assim não andou o Crucificado,
De tudo que ofusca os sofrimentos Teus,
Liberta-me, ó Cordeiro de Deus.
Dá-me o amor que conduz para a frente,
A fé que fica resistente,
A esperança que não cansa embora frustrada,
A paixão que arde como a chama abanada;
Não me deixes vir a ser desprezível,
Chama de Deus, faz-me o Teu combustível".

     A desgraça da igreja no século vinte é que mais zelo se mostra entre os comunistas e os membros de várias seitas do que entre os cristãos. 

     Em 1903, um homem com dezassete seguidores começou o seu ataque ao mundo. O nome dele era Lenin. Em 1918, o número havia aumentado para quarenta mil e ele conseguiu tomar o controle dos cento e sessenta milhões de pessoas da Rússia. O movimento continuou e chegou a dominar mais de um terço da população mundial. Não importa o quanto estejamos opostos aos seus princípios, mas temos que admirar o seu zelo. 

     Muitos cristãos sentiram-se envergonhados quando Billy Graham leu, pela primeira vez, a seguinte carta, escrita por um universitário norte-americano que se havia convertido ao comunismo no México. O propósito da carta era explicar à noiva porque tinha que romper o seu noivado. Era este o teor da carta: 

     “Nós, comunistas, temos uma medida bem elevada de infortúnios. Somos nós em quem atiram, a quem enforcam, lincham e cobrem de alcatrão quente e penas, escarnecem e difamam, zombam e destituem do emprego, e incomodam de todas as maneiras possíveis. Uma certa percentagem de nós morre assim ou está encarcerada. Vivemos em pobreza virtual. Entregamos ao partido cada cêntimo que ganhamos, além do que nos é extremamente indispensável para nos manter vivos.
Nós, comunistas, não temos tempo, nem dinheiro para ir muito a cinemas ou concertos, para "filé mignon" ou casas decentes e carros novos.

     Descrevem-nos como fanáticos. Somos fanáticos!

     As nossas vidas estão dominadas por uma grande e ofuscante causa: A luta pelo comunismo mundial.

     Nós, comunistas, possuímos uma filosofia de vida que não se poderia comprar com nenhuma quantia de dinheiro. Temos uma causa pela qual lutar, um propósito definido na vida. Subordinamos o nosso ser mesquinho e egoísta a um grande movimento de humanidade e, se as nossas vidas parecem difíceis ou o nosso "ego" parece sofrer por causa da subordinação ao partido, então somos suficientemente compensados pelo pensamento de que cada um de nós, com uma pequena parcela, está a contribuir para alguma coisa nova, verdadeira e melhor para a humanidade. Há uma coisa à qual me dediquei completamente: a causa comunista. É a minha vida, a minha profissão, a minha religião, o meu passatempo predilecto, a minha querida, a  minha esposa e senhora, o meu pão e carne. Para ela trabalho durante o dia e com ela sonho de noite. O seu apego a mim não diminui; cresce, porém, com o tempo. Portanto, não posso fazer amizades, namorar, nem conversar sem me referir a esta força que impele e guia a minha vida. Eu avalio as pessoas, as ideias e as acções de acordo com a sua atitude para com ela. Já tenho estado na prisão por causa das minhas ideias e, se necessário, estou pronto a enfrentar uma linha de fogo". 

     Se os comunistas podem dedicar-se tanto assim à sua causa, QUANTO MAIS DEVEM OS CRISTÃOS ESFORÇAREM-SE EM ALEGRE E PROFUNDA DEVOÇÃO PARA COM O SEU GLORIOSO SENHOR! O SENHOR JESUS NÃO VALE “ALGUMA COISA”; VALE TUDO. 

     "Se a fé cristã é digna de crença, merece ser crida heroicamente". (Findlay). 

     "Se Deus realmente fez alguma coisa em Cristo da qual dependa a salvação do mundo, e se a tornou conhecida, então é uma obrigação cristã ser intolerante com tudo quanto a ignora, nega ou faz pouco caso dela" (James Denney). 

     Deus quer homens que estejam completamente sob o controle do Espírito Santo. Esses homens parecerá aos outros estarem embriagados com vinho, mas, aqueles que sabem mais, reconhecerão que eles estão a ser dirigidos por uma "profunda, enorme e insatisfeita sede de Deus”.

     Que cada possível discípulo pense seriamente sobre a necessidade de zelo em sua vida. Que aspire cumprir a descrição dada pelo conhecido escritor J. C. Ryle. 

     "O homem zeloso em religião é essencialmente o homem de uma só coisa. Não basta dizer que ele é sincero, enérgico, inflexível, consciencioso, e sério, fervoroso de espírito. Ele vê uma só coisa,  quer uma só coisa, vive para uma só coisa: agradar a Deus. Mesmo que viva ou que morra, que tenha saúde ou que esteja doente, que seja considerado sábio ou insensato, culpado ou merecedor de louvores, que o honrem ou desonrem — o homem zeloso não se importa com nada disso. Ele inflama-se apenas por uma coisa e essa coisa é agradar a Deus e antecipar a Sua glória. 

     Se ele for devorado pela sua própria chama, não se preocupa, continua contente. Ele sente que, como uma lâmpada, é feito para queimar; e, se consumido na queima, não executou senão a obra para a qual Deus o designou. Tal homem encontrará sempre campo para o seu zelo. Se não puder pregar, trabalhar e dar dinheiro ele chorará, suspirará e orará. Se for um pobre, perpetuamente acamado num leito de doença, combaterá em oração contra o pecado que o cerca continuamente. Se não puder lutar no vale com Josué, fará o trabalho de Moisés, Arão e Hur no outeiro (Êxodo 17:9-13). Se ele mesmo não puder trabalhar, não dará descanso ao Senhor até que uma ajuda se levante de outro lugar e o trabalho seja feito. É isto que quero dizer quando falo de 'zelo' em 'religião".
William MacDonald
Discípulos Verdadeiros

Fonte: http://www.iqc.pt/

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